O Medo
Podemos distinguir três espécies de medo: o medo das forças naturais, o medo dos outros homens e o medo dos nossos próprios impulsos. Fiquemo-nos pelos dois primeiros:
O medo da natureza está ancestralizado em nós. Há, evidentemente, perigos naturais, mas tais perigos não são estatisticamente muito frequentes nas modernas sociedades civilizadas. No entanto, desempenham ainda um papel desproporcionado na nossa imaginação e nos nossos sonhos. Os cantos e os mitos falam de refúgios contra a tempestade e de visões de água em terras ressequidas. Na realidade, estamos emocionalmente tão preparados para uma vida de perigos físicos, que muitas pessoas consideram insípida a existência sem eles.
O medo da hostilidade do bando é muito profundo na maior parte das sociedades. Entrava a originalidade e promove a perseguição; impede o desenvolvimento, a personalidade e toda a delicadeza de adaptação. É este tipo de medo que produz o conformismo social. A rivalidade, a inveja, o espírito de competição, baseiam-se todos na insegurança e, por conveniência, no medo. Quando uma tribo selvagem tem falta de alimentos, o chefe é o último a sofrer a escassez. É portanto bom ser chefe.
– Bertrand Russell
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