Proteger a Natureza
No fim de contas, o que é importante não é pensar se a humanidade possui um nível energético mais alto ou mais baixo do que as plantas, se nós existimos porque um belo dia apareceu o sol, ou se foi a lua que com as estrelas de todo o universo se conjugou num esforço titânico com o único objectivo de nos criar. Tudo isso poderá ser belo, mas não deixa de ser um impalpável absurdo, um absurdo inútil quando comparado com a nossa vontade de viver e a nossa inconsciência inadvertida de nos aproximarmos da morte. Ninguém aprecia um poema quando ninguém existe.
Já nem falo da estética, da poesia que é defender uma natureza intacta, dos equilíbrios biológicos e ecológicos que nos criaram e como tal serviram para que a nossa vida pudesse ser, enquanto constituíamos um pequeno grupo nela perfeitamente integrado. Falo sim da incerteza, do perigo que é o de nos deixarmos levar pela nossa busca de modificar o mundo, de procurarmos o ambiente que se nos assemelha ideal, para que evoluamos nele e passemos a gostar de alimentos sintéticos e destruamos as espécies que aparentemente não nos fazem falta, alterar os gostos e defender o prazer pelo prazer, sem sabermos de facto como poderemos amanhã sair-nos com as consequências de termos feito o que fizemos, mas que confiamos descobrir sempre saída, até ao cataclismo final que nos tire de uma vez só todas as hipóteses, qual destino impiedoso e fatal do jogador que arrisca com todas as chances contra ele, num confiante palpite que é a natural capacidade de procurar resolver os problemas apenas quando eles nos aparecem, já só quando eles podem ser irremediáveis…, quando o seu remédio está hoje ao alcance da mão, através de um controlo de nós mesmos e da nossa expansividade, através de uma defesa de tudo quanto existe que seja de eliminação irreversível, enquanto conscientes de que não se provou o pouco impacto do seu desaparecimento…
É preciso olhar para a frente até onde a nossa vista enxerga, para evitarmos dar cabeçadas em postes e cair em precipícios insondáveis. É preciso dar a atenção que merece à nossa merda natural de sermos criativos e inconscientes ansiosos de controlar o mundo, porque, tendo o poder sem a capacidade, vamos é descontrolá-lo e destruirmo-nos. É preciso virarmo-nos para o controlo da nossa expansão demográfica e sabermo-nos parte de um ciclo equilibrado, sobre o qual pende uma bomba de efeito retardado activável por um botão perfeitamente ao nosso alcance.
O descontrolo da investigação científica é uma liberdade que temos de subordinar à sobrevivência da espécie e do planeta, para que o homem possa, de disparate em disparate, continuar a optar pelo disparate. Nada de processos irreversíveis.
- C@nd., (1979)
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