Wednesday, June 4, 2008

Interpelação do Dia


A Natureza


Deixa que o luar banhe a tua face e o corpo,

Filtrado pela neblina gelada do amanhecer.

Deixa que o frio te invada até que fiques a tremer,

E penetre bem fundo na carne e nos ossos,

Até te sentires despojado de todo o teu orgulho

E te curves perante a Natureza.

Para que recordes…,

Para que retrocedas no tempo e voltes a pensar

E a sentir como dantes sentias,

O medo…,

O amor do filho que sabe quem é a sua mãe,

A mãe de toda a humanidade,

A mãe à espera que a salves daquilo que mais temes

E que nunca dominarás, ingrato filho desnaturado;

Daquilo que ela dominava tão milagrosamente bem

Antes de te ter gerado e que estragasses tudo

Destruísses tudo.


Ser humano, terror e morte, mágicas palavras.


Criatura indigna!

Que sentes quando o mundo estrebucha aos teus pés?

O teu estômago sensível não se revolve com o balanço?

Causas-me vómitos!


E contudo a Lua vai brilhando,

Fracamente, receosamente, mas brilhando,

Filtrada pela fumarada das fábricas,

Qual testemunha horrorizada que não consegue fechar os olhos

Para não ver o que não quer ver.


Ora tu precisas de ver essa merda,

Ingrato aborto desnaturado,

Olha o que fazes.

Lanço desesperadamente apelo

A essa tua porca faceta de ambicioso:

Salva da morte quem sem ti a soube dominar.

Sem ela é a tua morte, oh tu que não a dominas.

Ainda mal nasceste e já te dás ares.

Vence o teu último e mais tenebroso medo

Com o exemplo ali à mão… Salva-te da morte.


Se bem que a Lua ainda vá brilhando…


- C@nd.

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