A Truta
Frescuras de arvoredos, luzes coadas pela ramaria, viçosas relvas salpicadas de prímulas e de botões de oiro…
Piscos-de-peito-ruivo e rouxinóis esfarelam cristais algures…
Tchoc, tchoc, tchoc, foge espantadiço um melro vestido de noite, enquanto os gaios zaragateiam na distância, krre – krre…
E depois a água maravilhosa, de vidro derretido, abraçando-se aos moledos, roçando-se pelas margens, coleando e enleando-se em si própria com jeitos de lascívia, abandonando-se, deixando-se ir numa oferta total, como entregando-se a uma força que a puxasse lá de longe, sabe-se lá donde, e que a conduzisse sempre mais para diante, sempre mais para a frente…
De súbito, ergue-se a apoteose do altar-mor duma cascata, ao lado da qual a pluma se pousa no centésimo lançamento do dia… Uma visão de beleza rebolha e a cana verga… Ah, uma truta!...
- A. D., lido algures numa revista que já não sei se tenho, chamada “Diana”, de caça, pesca e hipismo, extinta poucos anos depois do 25 de Abril (1980?).
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