Manifesto de um Alcoólico pelo Ateísmo 3
O homem é o único dos animais a quem foi concedido o horrível privilégio da razão. O homem, com o seu cérebro, pode penetrar a inebriante exibição de coisas e fitar o universo cheio de indiferença para com ele e para com os seus sonhos. Pode fazer isso, mas não é coisa que lhe faça bem. Para viver, e viver abundantemente, gozar a vida, estar vivo (o que é estar o que ele é), convém que o homem permaneça cego para a vida e com os sentidos embotados. O que é bom é verdade. E esta é a ordem de verdade, embora uma ordem menor, que o homem deve conhecer e tomar como guia das suas acções com a inabalável certeza de que é a verdade absoluta e de que no universo nenhuma outra ordem de verdade pode prevalecer. É bom que o homem aceite pelo seu valor facial o logro dos sentidos e os embustes da carne e através das névoas da sensualidade persiga os engodos e as mentiras da paixão.. É bom que ele não veja nem as sombras nem as futilidades, nem se sinta aterrado pelas suas luxúrias e rapacidades.
E o homem assim faz. Incontáveis foram os homens que vislumbraram essa outra e mais verdadeira ordem de verdade e se afastaram dela. Incontáveis foram os homens que passaram pela prolongada doença e lhe sobreviveram para falar dela e deliberadamente esquecê-la perto do fim dos seus dias. Viveram. Realizaram vida, porque a vida é o que eles foram. Procederam com acerto.
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