Manifesto de um Alcoólico pelo Ateísmo 1
(com o qual não concordo, mas nem por isso deixo de o transmitir, na certeza de que que os leitores vislumbrarão o vício de raciocínio de que enferma)
É fácil, para um homem qualquer, rolar na valeta. Mas é terrível, para um homem, manter-se firme nas pernas, sem cambalear, e concluir que no Universo só encontra para ele uma liberdade – nomeadamente, a de antecipar o dia da sua morte. Com este tipo de homem, esta é a hora da lógica pura, em que sabe que lhe é possível apenas conhecer as leis das coisas – mas nunca o significado das coisas. É a sua hora perigosa. Os seus pés começam a firmar-se no caminho que o conduz à cova. Tudo é claro para ele. Todas essas desconcertantes construções sobre a imortalidade não passam de pânicos, de almas aterradas pelo medo da morte, e atormentadas pelo três vezes maldito dom da imaginação. Não possuem o instinto da morte; falta-lhes a vontade de morrer, quando a morte se lhes apresenta. Enganam-se a si mesmos, convencendo-se de que conseguirão fazer batota ao jogo e ganhar assim um futuro, deixando os outros animais ao negrume da cova ou às chamas incineradoras dos crematórios.
Mas ele, esse homem na hora da sua lógica pura, sabe que os outros estão apenas a fazer batota consigo mesmos. O destino dos animais é igual para todos. Não há nada de novo debaixo do sol, nem mesmo essa ninharia por que anseiam as almas fracas – a imortalidade.
– Jack London
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