Monday, May 12, 2008

Pensamento Pedagógico do Dia


A Educação versus Ciência, Disciplina, Liberdade e Segurança


No que respeita às relações dos homens com o mundo, uma disciplina científica é necessária, isto é, o hábito de averiguar a veracidade dos factos e admiti-los depois de confirmados. Hoje o mundo está cheio de sentimentalistas que quando acham um facto desagradável recusam-se pura e simplesmente a admiti-lo como real. Essa atitude de espírito pode ser perigosa porquanto os factos desagradáveis têm efeitos tanto mais perniciosos quanto mais nos recusamos a reconhecê-los. A disciplina intelectual, no sentido da disposição para admitir as realidades, resultará da educação. Por exemplo, é simplesmente estúpido não reconhecer o domínio da Natureza na medida em que esse domínio existe. Toda a tentativa de independência nessa esfera revela falta de bom senso. (…)

Penso por isso que uma certa dos de disciplina na educação é necessária, não somente por razões de saúde, mas também para habituar as crianças a um comportamento social que torne desnecessárias as contendas perpétuas. A formação do hábito deve, pois, desempenhar um papel importante na primeira educação.

Há no entanto uma espécie de liberdade que a educação devia preservar, embora raramente o faça. Refiro-me à liberdade emocional. As razões que a recomendam são várias: por um lado, um domínio demasiado sobre as emoções é amortecedor e provoca uma perda de vitalidade; por outro lado, as emoções que não encontram uma saída tornam-se num mal e acabam por se transformar noutras muito mais perniciosas. Há ainda uma terceira razão: sempre que uma sociedade é demasiado limitada por regras convencionais, consideram-se indesejáveis muitas emoções que de facto são inofensivas.

Ao passo que a disciplina é necessária, tanto em relação aos factos científicos, como em relação a alguns hábitos úteis à vida social, já a educação deve exercer a menor disciplina possível sobre as emoções. Acima de tudo, nunca se deve forçar uma criança a exprimir um sentimento que não seja sincero. Com raras excepções, o que é necessário é uma acção positiva e não negativa. O importante é o que a criança faz, não aquilo que não faz. (…)

A criança precisa principalmente de duas coisas: liberdade para se desenvolver e segurança. A segurança, encontra-a na afeição e rotina. As crianças não se sentem em segurança quando não sabem mais ou menos o que as espera. Embora deixem de estar rodeadas de tabus, não se podem abandonar inteiramente à sua iniciativa. Os adultos inteligentes devem sugerir-lhes ocupações que lhes agradem e terão a arte de lhas sugerir num tom de voz que as incline mais a dizer “sim” do que “não”.


- Bertrand Russell.

No comments: