Tuesday, May 6, 2008

Texto do Dia


Os Génios do Pragmatismo


Estes estilistas da vida moderna são muito poucos, o que é bastante estranho. De facto, a actual subordinação das pessoas às ondas dos estilos em voga, a surgir por todos os lados as marés do “nice” e do ”uau”, seria de esperar um crescimento desenfreado de “géninhos” da moda e da originalidade. Não obstante, o que sucede é precisamente o contrário e, salvo casos raros, as pessoas acabam por se identificar bastante umas com as outras, aborrecendo-se com isso sobremaneira. (…)

Há então que procurar ser diferente, porque é isso que todos fazem! O jogo recomeça, adquirindo novos matizes, cheios de graça e encantamento, voltando os seus intervenientes irremediavelmente a encontrar-se, comungando os seus pensamentos e aspirações. Mesquinho, pura e simplesmente mesquinho! Por muito que se esforcem, não podem inovar nada que não o tenha já sido, portanto mais vale desistir e esperar até o momento de poder criar algo de refrescantemente novo. Desabituam-se então de conceber, submetem-se ao horroroso e pragmático processo de aquisição cultural e, quando atingem as condições ideais (com mais de cinquenta anos, preparados para começar a estudar, como dizem os entendidos), podem então começar a criar à vontade, já depois de terem recebido aquela multidão de marteladas no inconsciente que as impedem de se abrir e sair da esfera do tísico, rígido e anti-criativo ambiente em que voluntariamente se alaparam. (…)

E era girando naqueles meandros de incerteza e dos falsos prodígios daquele ou aqueloutro método, que eles criavam cousas criadas, aos centos, mas novas para eles, tão novas quão velhas lhes parecem todas as coisas agora, que já não podem voltar atrás, para readquirir aquela saudosa maleabilidade que lhes enchia o espírito e a alma, e transbordava para os outros e para eles mesmos, até encher e inundar as ruas e os prédios e o mundo à sua volta, e nadar no meio de toda aquela confusão de ervas e plásticos a flutuar, de noite, com a lua por detrás das nuvens a sorrir para eles….

E é cair-se em extremos de ter pena de já não poder confundir uma mesa de bilhar com um campo de golfe, continuar a discutir o sexo dos anjos, tornar a ser o subtipo vulgar de uma espécie frequente, e de gritar que se deve dar a César o que é de César, esta e todas essas tolices sem fim, num desfiar que era a vida, antítese da morte, que é amiga das coisas velhas e conservadoras, atafulhadas de quilos e quilos de pragmatismo que dança com ela todos os dias, sempre a mesma dança, ao som do mesmo instrumento, tocado pelos mesmos músicos, … na mesma sala… fúnebre. (…)

Como dizia o poeta, quando lhe acontecer, você saberá que é verdade.


- C@nd.

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