A Multidão
- Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti! – Gritei - Ora o que se passa, meus amigos? Passa-se que alguém ignorou este importante regulamento! – (um murmúrio de concordância fez-se ouvir) – Tenho de velar, por que ele seja cumprido. Aquando da sua promulgação, não se julgava que houvesse tal via de lhe desobedecer... - (pausa) – Estou tomado de grande agitação. Sei que é terrível, mas a situação não tem outro remédio… Isto implica um castigo exemplar, meus senhores. Só punindo a prevaricação se combate a desobediência! É preciso disciplina!
- Disciplina, disciplina! – Ululou a multidão.
- É preciso justiça!
- Justiça, justiça! – Berrava a turba.
(Ali, como uns leões!...)
O meu companheiro de tribuna não parecia convencido, a sua cara é um barómetro permanente do seu estado de espírito. Chegou mesmo a resmungar qualquer coisa ininteligível, mas o gigante olhou para ele, ameaçador. Após aquela troca de olhares tempestuosos, com medo de perder a oportunidade, ele levantou-se, dominando com a sua estatura todo aquele maralhal. A queixada beligerante moveu-se e a sua voz soou carregada de agressividade.
- Vamos a ele, vamos a ele! – E começou a correr em direcção ao espavorido réu, logo seguido pelo povo!
Um estarrecedor som de cabeça a ser esmagada por um tronco de árvore fez-se ouvir. Tudo estava consumado. Enquanto o povo cortava o corpo aos bocados com foices, virei-me para o meu amigo com um olhar interrogador. Voltou-se lentamente, fez um esforço e dominou-se.
- Vencido, mas não convencido – disse, já mais calmo.
- Vá, sejamos alegres, para afastar os cancros
(…)
- C@nd.
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