O meu amigo Hakan Hakansson – cujo nome quer dizer, tão-somente, Hakan filho de Hakan – vive em Estocolmo e é de nacionalidade sueca. Conheci-o na Suécia, em 1989, durante um trabalho que ali tive oportunidade de efectuar.
Passados uns meses, o Hakan veio a Lisboa e por cá ficou, também em trabalho, durante cerca de quinze dias. Como é tradicional, e porque já havíamos estabelecido laços de empatia, perguntei-lhe um dia, ao jantar, o que pensava dos portugueses. Após pensar uns breves momentos, disse-me, com um ar convicto: “Luís, you are a problem oriented mind”! ( Luís, vocês têm uma cabeça orientada por problemas).
Achei interessantíssima esta definição e não pude evitar rir à gargalhada. De facto, de há uns anos a esta parte, instalou-se na sociedade portuguesa um verdadeiro culto da dificuldade e do problema. Expressamos esse culto através de expressões que se tornaram correntes, tais como “...é muito complicado”, “...não sei, é complicado”, “...isto é mesmo muito complicado”. Quando alguém aparece com uma proposta qualquer e a apresenta, a primeira reacção é, regra geral, de adesão: “...é uma ideia porreira!”, mas, de repente e em jeito de oposto destrutivo, logo aparece um outro a dizer”...é pá, a ideia é porreira, mas já viste os problemas que vais ter? Os obstáculos que vais enfrentar? É que isto é muito complicado”.
Assim, podemos dizer, parafraseando o meu amigo Hakan, que a nova máxima portuguesa se pode traduzir na seguinte ideia-chave:
Se as coisas podem ser complicadas, porque razão hão-de ser simples?
O complicador é, assim, a principal ferramenta de trabalho dos portugueses. Urge, pois, criar o Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Complicador (INDC), directamente dependente da Presidência do Conselho de Ministros, devido à importância estratégica da sua acção na melhoria da capacidade de realização dos portugueses. Competirá ao INDC, nomeadamente, promover campanhas de crítica ás obras feitas, não deixando que a satisfação se instale na população portuguesa. Deve o INDC também, tomar as medidas necessárias para impedir a capacidade de realização e de empreendimento, como forma de travar os ímpetos excessivos de desenvolvimento. Terá igualmente, como tarefa prioritária, criar Núcleos Regionais de Complicação (NRC), para evitar a proliferação da descentralização e da celeridade na resolução dos problemas, visto que, a celeridade excessiva – que actualmente se verifica e graves problemas tem criado - é inimiga do progresso. A sigla do INDC, deverá ser, “não faça, nem deixe fazer, complique!” e aguarda-se que publique brochuras temáticas diversas, com o título “Como complicar a...”. Haverá com certeza temas interessantes, dos quais destaco aqueles que, estou certo, ocuparão em primeiro lugar as manchetes das livrarias e dos quiosques de jornais e revistas:
Por uma questão de rigor, importa não confundir complicador, com computador, embora, por vezes, o computador possa ser um eficaz meio de complicação, bastando, para tal, usar o Windows XP ou superior, da Microsoft. Mas o complicador não se pode confundir com um computador, devido fundamentalmente, a um conjunto de características que são muito diferenciadas. Assim, enquanto o computador é rápido, o complicador é lento; o computador tem um monitor que permite visionar as imagens do seu trabalho, enquanto o complicador actua subterraneamente, não se vendo nada; o computador utiliza a corrente eléctrica para funcionar, enquanto o complicador anda a passo de caracol. É este facto, que justifica a actual escassez de caracóis, pois o acréscimo de complicadores tem consumido, para o seu movimento, a maior parte dos caracóis do país, sendo mesmo necessário, por vezes, recorrer a importações maciças. Como se vê, não há confusão possível.
Aconselha-se pois, a todos aqueles que querem promover o desenvolvimento do país, a deixarem de lado a informatização e a incluírem nos seus orçamentos uma verba que permita financiar a complicadorização dos respectivos serviços e instituições, visto que, informatizar “... é muito complicado!”.
Ocorre-me mesmo propor que o INDC – Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Complicador, crie o Prémio Nacional de Complicação, destinado a premiar todos aqueles – pessoas e instituições – que fazem do complicador a sua razão de ser. Tenho receio, todavia, que mesmo toda a produção das fábricas de Cerâmica das Caldas da Rainha não seja suficiente para atribuir a estatueta de barro – um complicador a fazer um manguito – a todos os candidatos.
Será que estamos condenados a orientarmos a nossa vida por problemas e por complicações, em vez de a iluminarmos com objectivos claros e determinados? Vamos pensar nisso.
- Luís Bento, SERH.
Passados uns meses, o Hakan veio a Lisboa e por cá ficou, também em trabalho, durante cerca de quinze dias. Como é tradicional, e porque já havíamos estabelecido laços de empatia, perguntei-lhe um dia, ao jantar, o que pensava dos portugueses. Após pensar uns breves momentos, disse-me, com um ar convicto: “Luís, you are a problem oriented mind”! ( Luís, vocês têm uma cabeça orientada por problemas).
Achei interessantíssima esta definição e não pude evitar rir à gargalhada. De facto, de há uns anos a esta parte, instalou-se na sociedade portuguesa um verdadeiro culto da dificuldade e do problema. Expressamos esse culto através de expressões que se tornaram correntes, tais como “...é muito complicado”, “...não sei, é complicado”, “...isto é mesmo muito complicado”. Quando alguém aparece com uma proposta qualquer e a apresenta, a primeira reacção é, regra geral, de adesão: “...é uma ideia porreira!”, mas, de repente e em jeito de oposto destrutivo, logo aparece um outro a dizer”...é pá, a ideia é porreira, mas já viste os problemas que vais ter? Os obstáculos que vais enfrentar? É que isto é muito complicado”.
Assim, podemos dizer, parafraseando o meu amigo Hakan, que a nova máxima portuguesa se pode traduzir na seguinte ideia-chave:
Se as coisas podem ser complicadas, porque razão hão-de ser simples?
O complicador é, assim, a principal ferramenta de trabalho dos portugueses. Urge, pois, criar o Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Complicador (INDC), directamente dependente da Presidência do Conselho de Ministros, devido à importância estratégica da sua acção na melhoria da capacidade de realização dos portugueses. Competirá ao INDC, nomeadamente, promover campanhas de crítica ás obras feitas, não deixando que a satisfação se instale na população portuguesa. Deve o INDC também, tomar as medidas necessárias para impedir a capacidade de realização e de empreendimento, como forma de travar os ímpetos excessivos de desenvolvimento. Terá igualmente, como tarefa prioritária, criar Núcleos Regionais de Complicação (NRC), para evitar a proliferação da descentralização e da celeridade na resolução dos problemas, visto que, a celeridade excessiva – que actualmente se verifica e graves problemas tem criado - é inimiga do progresso. A sigla do INDC, deverá ser, “não faça, nem deixe fazer, complique!” e aguarda-se que publique brochuras temáticas diversas, com o título “Como complicar a...”. Haverá com certeza temas interessantes, dos quais destaco aqueles que, estou certo, ocuparão em primeiro lugar as manchetes das livrarias e dos quiosques de jornais e revistas:
- Como complicar a realização de obras públicas?
- Como complicar a vida dos automobilistas?
- Como complicar a vida dos estudantes?
- Como complicar o funcionamento dos hospitais?
- Como complicar o funcionamento da Assembleia da República? (este será um best-seller)
- Como complicar a acção governativa?
- Como complicar a constituição de empresas?
- Como complicar o funcionamento dos tribunais?
Por uma questão de rigor, importa não confundir complicador, com computador, embora, por vezes, o computador possa ser um eficaz meio de complicação, bastando, para tal, usar o Windows XP ou superior, da Microsoft. Mas o complicador não se pode confundir com um computador, devido fundamentalmente, a um conjunto de características que são muito diferenciadas. Assim, enquanto o computador é rápido, o complicador é lento; o computador tem um monitor que permite visionar as imagens do seu trabalho, enquanto o complicador actua subterraneamente, não se vendo nada; o computador utiliza a corrente eléctrica para funcionar, enquanto o complicador anda a passo de caracol. É este facto, que justifica a actual escassez de caracóis, pois o acréscimo de complicadores tem consumido, para o seu movimento, a maior parte dos caracóis do país, sendo mesmo necessário, por vezes, recorrer a importações maciças. Como se vê, não há confusão possível.
Aconselha-se pois, a todos aqueles que querem promover o desenvolvimento do país, a deixarem de lado a informatização e a incluírem nos seus orçamentos uma verba que permita financiar a complicadorização dos respectivos serviços e instituições, visto que, informatizar “... é muito complicado!”.
Ocorre-me mesmo propor que o INDC – Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Complicador, crie o Prémio Nacional de Complicação, destinado a premiar todos aqueles – pessoas e instituições – que fazem do complicador a sua razão de ser. Tenho receio, todavia, que mesmo toda a produção das fábricas de Cerâmica das Caldas da Rainha não seja suficiente para atribuir a estatueta de barro – um complicador a fazer um manguito – a todos os candidatos.
Será que estamos condenados a orientarmos a nossa vida por problemas e por complicações, em vez de a iluminarmos com objectivos claros e determinados? Vamos pensar nisso.
- Luís Bento, SERH.
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