O Assobio da Cobra
Às vezes, fico tenso,
Fico "penso, logo é triste"
Fico sem voz e sem gosto
Com vontade de morder
As tuas maçãs do rosto
Até chegar ao caroço.
Ser o arrepio do osso,
Cobra de água de cisternas,
Subir pelas tuas pernas,
Provocar um alvoroço
Ser o dono da risada,
Do ai-ai, não digas nada,
Que eu tropeço na vontade
Mando às malvas a prudência,
Ganho fama na cidade
Mas acabo mastigando,
Remoendo e relembrando
O sabor da existência
Ás vezes, fico leve,
Fico "penso, logo é breve"
Fico solto de alegria
E as tuas maçãs do rosto
Penso, logo já mordia!
É o assobio da cobra,
Que se dobra e se desdobra,
Na redonda melodia
E tu dizes "já sabia!
Já sabia que caía"
No mar da tua risada,
No ai-ai, não digas nada,
Que eu tropeço na vontade,
Mando às malvas a prudência,
Ganho fama na cidade
Mas acabo mastigando,
Remoendo e relembrando
O sabor da existência
- Manuel Paulo - correcção em 2010-02-29: João Monge (com o meu muito obrigado ao comentador anónimo).
1 comment:
Caro Henrique, este é de facto um poema belíssimo que gerou uma também belíssima canção incluída no álbum "assobio da cobra", de Manuel Paulo.
As canções deste disco têm todas a autoria de Manuel Paulo na música e de João Monge na letra.
O poema que publicou é portanto de João Monge e não de Manuel Paulo, como por lapso referiu.
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