Agora
Estou sentado à mesa de um café. Estava sem papel. A lapiseira tinha-a no bolso, quase esquecida. Escrevo enquanto o café não fecha. Nesta ansiedade palavrosa de não esquecer o que vou sentindo – antes que fuja. Antes que escureça demasiado dentro de mim. De ter medo dos Papões no adormecer.
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É portanto poesia de circunstância. Uma forma de me sentir vivo para alguém: esse que sou eu.
Quem ler dirá: “isto não me diz nada. Que mau estilo.”
É no entanto o estilo mais puro da minha vida. Trata-se sem dúvida do que me é essencial. Respiro mais apressadamente e peço outra cerveja, neste café prestes a fechar, no momento mais importante da minha vida neste momento.
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O leitor ou a pessoa que se senta na mesa ao lado dirá: “Que estranho, que bêbedo, que insolência.”
Eu continuo a dizer que este é o momento mais importante da minha vida neste momento.
- Eduardo Saraiva, 9 de Abril de 1979.
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