Basta
Basta um aguaceiro no pino do inverno,
Basta não ter ido, alguma vez, por onde se quis ir.
Basta ter ficado algum dia cercado por um aguaceiro
Ou pelo desânimo.
Basta ter sonhado instantaneamente
Com alguma promessa que logo se desfizesse.
Não é sequer necessário ter chorado de sede
Ao longo dos rios.
Basta ter presságios, estar atento
Às ondas, à repetição.
Basta ter percorrido estradas
À espera de braços estendidos
Ao idealismo de estar acordado.
Não sei se algum dia será diferente, mas
Mesmo que vivesse esse dia,
Bastar-me-ia pensar no passado,
Este presente que todos nós nos oferecemos,
Bastar-me-ia lembrar este poema,
Para reviver obsessivamente
Este triste adjectivo:
Tristeza.
- Eduardo Saraiva, 9 de Abril de 1979.
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