Friday, November 30, 2007

Definição do Dia

Filosofia

Pois é inútil contestar que a Filosofia coxeia. Ela habita a História e a Vida, mas gostaria de se instalar no seu centro, precisamente no ponto em que estas são advento, significação que nasce. Ela agasta-se no que está estabelecido. Como acto de expressão não se realiza senão na medida em que renuncia a coincidir com o que já está expresso e afasta-o para lhe ver o significado. Por isso pode ser trágica e, porque comporta em si o seu contrário, nunca será uma ocupação séria.

O homem sério, se existe, é o homem de uma só coisa à qual diz sim. Os filósofos, até os mais resolutos, querem sempre os contrários: realizar, mas destruindo; suprimir, mas conservando. Eles têm sempre um pensamento reservado. O filósofo dá ao homem sério – à acção, à religião, às paixões – uma atenção talvez mais penetrante que ninguém, mas é precisamente por isso que se sente que ele o não é. (…)

O filósofo da acção é talvez o que está mais distante da acção: falar da acção, mesmo com rigor e profundidade, é declarar que não se quer agir, e Maquiavel é precisamente o contrário de um maquiavélico: visto que descreve os ardis do poder, visto que (…) revela um segredo.

O sedutor ou o político, que vivem na dialéctica e que dela possuem o significado ou o instinto, não se servem dela senão para escondê-la. É o filósofo que explica que, dialecticamente, um opositor, em dadas circunstâncias, transforma-se no equivalente a um traidor (…). Mesmo que nunca tenha traído, sente-se, na sua maneira de ser fiel, que ele poderia trair, não participa como os outros, falta ao seu assentimento algo de compacto e de carnal (…). Ele não é de modo absoluto um ser real (…).

A claudicação do filósofo é a sua virtude. A ironia verdadeira não é um álibi, é uma tarefa, e é o desapego que lhe delimita um certo género de acção entre os homens.

– M. Merleau Ponty

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